A Arquitetura e a Engenharia no Controle de Infecções

Postado em Arquitetura ,     Escrito por Prof. Esp. Flávio de Castro Bicalho    em público June 15, 2020

Controle de Infecções

Em vários hospitais e serviços de saúde no Brasil e mesmo no exterior, é possível identificar muitos erros, além de uma quantidade significativa de perda de dinheiro, em prol de um possível combate às infecções dos pacientes e a contaminação de produtos e materiais.

Estes erros decorrem da utilização de conceitos e soluções superados, usados há vinte ou trinta anos atrás, como as circulações duplas e os elevadores exclusivos para materiais “sujos e limpos”, citando apenas dois exemplos que oneram a construção e que condenam aos proprietários investir pelo resto da vida uma grande soma de recursos para manter o prédio, desnecessariamente. Como exemplo, pode ser citado o transporte da roupa que, uma vez bem acondicionadas em carros de transporte com tampa, podem circular pelo mesmo elevador, em horários pré-definidos para o transporte, de forma a não haver o cruzamento da roupa limpa com a roupa suja.

Edificação ou equipamento algum impede um indivíduo de adquirir infecções. Hoje se sabe que várias das infecções são de origem endógena e não exógena como se pensava há algum tempo atrás, ou seja, podemos adquirir infecção de nós mesmos, se os procedimentos não forem feitos corretamente. Adquire-se infecção também pelo uso de materiais mal desinfectados ou mal esterilizados, ou mesmo pela falta de higienização, em especial das mãos da equipe de assistência. O prédio, os equipamentos, os ambientes em si têm uma contribuição secundária neste problema, mas certamente se estes não estiverem corretos, podem impactar no agravamento da situação.

Diante destes fatos, nota-se que a luta pelo controle de infecção nos serviços de saúde pode encontrar um forte aliado na arquitetura e na engenharia. Várias são as técnicas que os arquitetos e engenheiros podem adotar de modo a contribuir para a diminuição das taxas de infecção nos estabelecimentos assistenciais de saúde – EAS. Zoneamento dos ambientes em áreas críticas, semicríticas e não críticas, barreiras físicas entre ambientes, controle de contaminação do ar, fluxos corretos de trabalho e a escolha criteriosa dos materiais de acabamento, são algumas técnicas que, aliadas a procedimentos médicos e de enfermagem principalmente, contribuem para que os índices de infecção de um estabelecimento situem-se em faixas consideradas aceitáveis.

Erra quem pensa que se juntando equipamentos sofisticados e algumas técnicas arquitetônicas, a infecção nos serviços de saúde pode ser controlada. De nada adianta estes equipamentos e uma bela edificação se, por trás disto não houver uma equipe de assistência ao paciente ciosa de suas funções e que saiba usar corretamente estes espaços e equipamentos. Os níveis de infecção nos serviços de saúde somente adquirirão índices aceitáveis se houver a conjugação entre os procedimentos assistenciais da equipe e as soluções arquitetônicas e de engenharia. A tentativa sempre será no sentido de minimizar riscos ou preveni-los quando houver esta chance.

Os procedimentos feitos pelos profissionais que lidam diretamente na assistência ao paciente certamente são mais importantes do que a infraestrutura física no controle de infecção. Não se pretende com isto, minimizar o trabalho dos arquitetos e engenheiros, mas, certamente, não adianta ter um lavatório se as pessoas não lavarem as mãos. O trabalho dos arquitetos e engenheiros, neste caso, é o de especificar corretamente o lavatório, a torneira, o porta-sabão e a papeleira e colocá-los no lugar certo. Entretanto, se a equipe de assistência não tiver a consciência de que a higienização das mãos é um dos mais eficientes atos no controle de infecção, de nada adiantará a obra e os equipamentos corretos.

Algumas soluções dadas prejudicam em muito os profissionais que trabalham em ambientes de saúde. Um exemplo claro diz respeito ao controle da qualidade do ar. Um sistema de climatização de ar é um excelente aliado para manter o ambiente limpo e isento de partículas e microrganismos em suspensão. Entendemos como essencial em vários ambientes, como nas áreas de preparo de nutrição parenteral, lavanderia, centro cirúrgico, bancos de órgãos, etc., no entanto, muitas vezes são mal projetados e mantidos.

Outro problema encontrado comumente são os fluxos incorretos, determinados pela falta de conhecimento, de quais são e como são feitas as atividades da unidade hospitalar que se está projetando.

Se tiver de escolher entre um hospital com uma infraestrutura apenas razoável, mas com uma comissão de controle de infecção realmente atuante, e um outro com uma excelente infraestrutura, mas sem uma atuação correta dos funcionários no que diz respeito ao controle de infecção, certamente a primeira torna-se uma melhor opção.

Como o controle de infecções é fortemente dependente dos procedimentos, as soluções arquitetônicas e de engenharia contribuem parcialmente no combate as infecções, considerando as características físicas nos EAS que auxiliam nas estratégias contra a transmissão de infecções.

Alguns conceitos são básicos para que os arquitetos e engenheiros entendam esta questão de infecção nos serviços de saúde e, desta forma, projetem melhor os estabelecimentos. Talvez o mais importante conceito que os arquitetos e engenheiros precisam compreender é o que consta na Resolução da ANVISA, RDC 50/2002:

A melhor prevenção de infecção de serviços de saúde é tratar os elementos contaminados na fonte; o transporte de material contaminado, se acondicionado dentro da técnica adequada, pode ser realizado através de quaisquer ambientes e cruzar com material esterilizado ou paciente, sem risco algum.

Os profissionais arquitetos e engenheiros quase sempre não dominam conceitos que podem ser extremamente úteis nos projetos dos EAS. Um deles é entender que a maioria dos materiais usados nos procedimentos dentro de um hospital não é estéril e que existem estágios com graus de pureza variados antes de se atingir a esterilidade. Entendendo isto, se percebe que o rigor com que tratamos estes materiais varia de acordo com o grau de pureza que eles se encontram. Isto reflete na construção dos espaços. Dentro de um centro de material esterilizado – CME, por exemplo, alguns objetos estão extremamente sujos, outros já foram descontaminados e somente alguns serão esterilizados. Nota-se, portanto, que para a manutenção de um material esterilizado, este não pode ter contato com nada, caso contrário, perderia a esterilidade.

O conhecimento desses aspectos auxilia na perda do medo de lidar com alguns tabus que não acrescentam valor ao projeto e à obra e sim, podem levar a muitos gastos e transtornos desnecessários, sem que se tenha um efetivo controle de infecção.


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Os Estabelecimentos Assistenciais de Saúde (EAS) se diferem dos demais edifícios, em especial, porque os mesmos devem atender a vários princípios e requisitos visando reduzir os riscos de infecção ou contaminação. Isto faz com que os projetos e a construção, reforma ou ampliação destes estabelecimentos sejam bem diferentes de um edifício residencial ou de uma edificação de serviços qualquer.

São várias as normas obrigatórias aplicadas na elaboração dos projetos de EAS, sejam elas normas da ANVISA, da ABNT, do Ministério da Saúde ou das secretarias de saúde. A pandemia da COVID-19 tornou esta temática ainda mais relevante e necessária. Pretende-se ministrar aos alunos noções básicas de controle de infecção e como a arquitetura e a engenharia pode ajudar neste controle.

O curso A Arquitetura e a Engenharia no Controle de Infecções em Serviços de Saúde é imperdível para os profissionais que lidam com o planejamento e a gestão dos ambientes de saúde: arquitetos, engenheiros, médicos, enfermeiros e demais profissionais vinculados ao tema.

Hospitais, laboratórios, clínicas, postos de saúde, consultórios e estabelecimentos assistenciais de saúde em geral poderão ser melhor projetados com os conhecimentos transmitidos pela experiência profissional do arquiteto Flávio Bicalho e do engenheiro mecânico Sandro Dolghi neste curso.

As oportunas advertências do Prof. Flávio derrubam mitos e apontam decisões projetuais equivocadas, cujo único efeito é encarecer a construção e a manutenção hospitalar. Por outro lado, conhecer conceitos sobre climatização dos EAS e detalhes das normas técnicas específicas, permitirão projetar ambientes climatizados da forma correta, principalmente os mais críticos e em especial os ambientes das unidades de isolamento respiratório, tão vitais em tempos de Covid-19. Isto o Prof. Sandro mostrará em detalhes.

O curso é uma rara oportunidade de tratar deste tema de fundamental relevância na saúde, permitindo a construção de ambientes através das reflexões provenientes da arquitetura e da engenharia hospitalar.

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sobre o autor
Flávio de Castro Bicalho
Prof. Esp. Flávio de Castro Bicalho
Arquiteto formado pela Universidade de Brasília-UnB em 1982, e especialista em Saúde coletiva/Vigilância sanitária em serviços de saúde pela Universidade de Brasília-UnB em 2002. Ex-Presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento do Edifício Hospitalar-ABDEH (2008-2011). Professor de vários cursos de especialização em arquitetura de sistemas de saúde, vigilância sanitária de serviços de saúde, controle de infecção hospitalar, nefrologia, UTI, administração hospitalar, etc, em várias universidades brasileiras. Trabalhou no Ministério da Saúde e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária-ANVISA de 1986 a 2007 onde exerceu vários cargos e chefias. Coordenador e redator-geral das atuais normas para projetos de estabelecimentos assistenciais de saúde do Brasil (Resolução ANVISA RDC nº 50/2002). Membro de vários grupos de trabalho responsáveis pela elaboração de inúmeras outras normas (diálise, UTI, nutrição parenteral e enteral, ar condicionado, lavanderia, quimioterapia, radioterapia, hemoterapia, banco de órgãos, etc). Autor e co-autor de inúmeros livros e manuais como, por exemplo, o livro A Arquitetura e a Engenharia no Controle de Infecção, 2010. Autor e consultor de vários projetos de hospitais e clínicas privadas no Brasil. Sócio Honorário da Asociación Chilena de Arquitetura y Especialidades Hospitalaria A.G. Título concedido em 2012. Palestrante em vários congressos, seminários e cursos, nacionais e internacionais, sobre arquitetura hospitalar, planejamento de saúde, ar condicionado, normatização na área da saúde, gestão hospitalar, engenharia clínica, etc.